
Juntas de novo as quatro cordas que vibram o perfeito tom do que é viver, fazendo ecoar na mente de cada um a ansiedade de mais uma viagem que tarde se despoleta sobre o atento olhar do cansado sol que nas nossas costas prepara a chegada do seu lado negro.
Foram tantos os sítios....chegar, sentir e partir, guardando para o apaziguador mar de céu os momentos em que os espelhos da alma necessitam de se fechar...
Continuando rumo ao que nos une chegamos perante a música, esse ser que te beija, arrepia, contagia tudo em redor.... E é quando o teu corpo estremece ao som de mais um acorde, embalado ao sabor de todo o álcool e droga que te escorre pelo corpo, que olhas para o lado e até ti chega um sorriso em câmara lenta, em perfeito uníssono com a matéria de que és feito, trespassando-te o âmago, elevando-nos num esmagador abraço bem perto das estrelas, e é aqui que num momento único eu, tu, ele e o outro somos feitos do mesmo, gravando a fogo na memória esta orgia de sensações...
Mas como se não fosse suficiente este obsceno orgasmo continua, atingindo o seu clímax após as ondas sonoras cessarem, o pó assentar, as promiscuas mentes venderem a carne...
Aí estou eu...cambaleando ao sabor do vento através dos escombros de mais uma noite...Tombo este mero transporte da alma encarando sem medo o negro e cintilante tecto que sobre mim se abate... Aconchego o que resta do encéfalo na relva, sinto a garganta fervilhar ora da panóplia de álcool que ingeri, ora da erva que nos meus pulmões se esfumaça e por alguns momentos que palavra alguma pode descrever tudo o que sinto, tudo o que sou, me abandona e se esvai...bem alto....bem perto das estrelas que secretamente guardam os meus sonhos... E é esta conversa muda que me arquitecta...
Por ai diante, durante mais quatro noites se delineou esta "soul trip" culminando em mais uma viagem, desta feita a de retorno à realidade de um dia normal...Malas às costas, alma renovada, saudade já a bombear do coração.... partimos....
Mais uma vez os cavalos de Apollo percorrem o horizonte que já não separa céu nem mar, escoltando o turbilhão de memórias e sentimentos que fluidamente se espalham nesta folha...